Diário de Viagem: Uma Berlim, múltiplas dimensões
Amigos,
Estamos chegando ao fim desse projeto. Espero que minhas impressões tenham sido úteis a quem tem interesse em começar ou aprofundar seu contato com a língua alemã, principalmente pela experiência de vir estudar aqui no país.
Nessas 4 semanas aprendi muito mais sobre o alemão e a cultura alemã do que eu mesmo esperava, além de ter me dado conta de vários aspectos sobre minha aprendizagem que para mim são importantes no estudo da língua.
Acredito que, compartilhando isso com vocês, ajudo um pouco as pessoas que estão em busca de novos approachs para estudar. Quem estuda alemão sabe o quanto as dicas podem ser valiosas, e como desenvolver sua “forma” de estudar impacta no resultado do estudo.
Como este post final ficou um pouco longo, eu o dividi em duas partes: A) Minhas impressões de turista e B) Minhas impressões como estudante. Assim você consegue navegar pelo que lhe interessar mais de maneira prática e direta.
Agradeço a todos que vierem aqui curtir esses relatos, agradeço ao Goethe-Zentrum Brasilia pela oportunidade de escrever um pouco de minhas experiências e a Berlim, esta cidade maravilhosa e complexa que me recebeu de braços abertos.
Segunda vez em Berlim
Como disse antes, eu já estive por aqui com minha esposa em 2015. Tenho uma profunda curiosidade e admiração pela Alemanha e provavelmente vou voltar várias outras vezes.
O que diferenciou dessa vez foi que agora conheço a cidade melhor, me desloco mais rápido. Não vou falar de todas as coisas maravilhosas que Berlim tem para oferecer, pois isso daria um site dedicado exclusivamente ao tema, mas sim focar em características da cidade com a qual me identifico, e que me fazem sempre querer retornar.
As ruas e a diversidade
Uma das minhas paixões é caminhar. Preciso muito caminhar na minha Brasília, e quando viajo quero andar a pé pela minha cidade anfitriã. Berlim é um prato cheio para isso. Sua arquitetura tem “retratos” de várias épocas, mas é sempre grandiosa, humanista, convidando aos passeios e encontros entre pessoas.
Passear por Berlim é uma viagem histórica, psicológica e social. Para mim a cidade representa um pouco a sensação de liberdade que a Alemanha vem se esforçando em transmitir ao mundo. É uma cidade ativa, mas não opressora. Organizada porém criativa. Aqui tenho a sensação de que os espaços são prioritariamente públicos, e que o indivíduo tem lugar para agir na sociedade.
Os museus e a riqueza cultural
Outro de meus interesses é ver exposições. Para mim o panorama artístico de uma cidade diz muito sobre seu DNA social. A arte é a via por onde as pessoas manifestam o que nem sempre a linguagem do cotidiano possibilita ou permite. E mais uma vez Berlim é ponto de convergência. Seus museus tem um olhar amplo e profundo, cobrindo muitos dos momentos históricos da civilização ocidental, mas também abrindo espaço para o novo, o moderno e o inusitado.
A cidade pulsa cultura mesmo no inverno, tendo casas de show e de Ópera abertas e ativas, mercados de produtos locais hiper-visitados, numa relação entre o produtor e o consumidor que independe das esferas políticas e administrativas da cidade. Essa riqueza da diversidade cultural e independência de suas atividades é para mim uma das grandes marcas de Berlim.
Os berlinenses
Tive experiências muito variadas com o povo daqui. Desde perder minha carteira no metrô e ser contactado 20 minutos depois para recebê-la de volta intacta, até discutir com algum funcionário de serviço de transporte pedindo paciência para que ele me explicasse direito alguns trajetos.
Mas o que posso destacar é que a mesma razão que me fez iniciar os estudos de alemão me faz admirar os cidadãos de Berlim. São pessoas íntegras, transparentes, diversas, que tem um grande senso de responsabilidade para com a sua cidade, não apenas falando da esfera civil, mas do cuidado e carinho com o bem que lhes pertence. Isso fica claro a todo instante, seja na organização dos espaços públicos, seja nas dinâmicas sociais, ou quando você para um estranho na rua para tirar uma dúvida.
Berlim não é a Alemanha, mas uma de suas inúmeras facetas. No entanto, quanto mais aprofundo no meu conhecimento da língua alemã, mais posso entender e absorver da cultura alemã, e Berlim foi para mim a via perfeita para iniciar esse processo, por essas e tantas outras razões.
Aprendizados sobre aprendizagem
Ao longo desses 28 dias, tive uma oportunidade única de rever minha forma de estudar enquanto eu estudava. Pode parecer que isso é “demais, eu só quero estudar alemão”, mas na verdade a forma como você estuda influencia significativamente no resultado do que você aprende.
Por isso levantei algumas coisas que fizeram muita diferença no meu aprendizado, e que mais uma vez mudaram minha forma de organizar minha aprendizagem. Todo mundo com quem eu falo [até a diretora do curso de Berlim, que entrevistei] me diz a mesma coisa: “˜não basta apenas vir às aulas. Estudar alemão é o que você faz além das aulas”.
Por isso fiz uma pequena curadoria de atitudes e técnicas de estudo, que me servem e podem também ser úteis a você:
Atitudes
Constância
Das línguas que falo, o alemão com certeza foi a que mais me exigiu contato constante e planejado fora das aulas. Na prática isso quer dizer estudar mesmo, bastante, sem ser de véspera. Muitas das palavras e gêneros serão assimilados por repetição. Muitas regras gramaticais e suas exceções vão ser consolidadas com exercícios.
Por isso eu tenho uma “cota” de horas semanal, que tenta espelhar o conteúdo que vi em sala de aula
Exercícios extras
Uma das coisas que aprendi nesta viagem foi a fazer exercícios extras. Os extras vão abrindo sua cabeça para a língua, mostrando mais possibilidades para um determinado assunto, e matando as duvidas de vez. Uma forma de fazer isso é esgotar os exercícios do livro de trabalho. A outra é procurar uma gramática. Nesse intensivo o professor recomendou muitos exercícios da Klipp und Klar. Eles têm uma boa apresentação do tema, bem organizada, e uma variedade de exercícios extensa, que ajuda a consolidar os temas.
Cara dura
A outra coisa que aprendi foi a perder a vergonha de falar meu parco alemão. Já tinha sentindo isso do contato com outras alemães que tive, ao observá-los falando a língua portuguesa. Eles não tem melindres, falam tudo o que precisam, e depois vão aprendendo com as correções.
Nós brasileiros temos um constrangimento em “errar” alguma coisa, principalmente se for em público. O que não faz sentido, certo? Se você está estudando uma língua o mais óbvio é que você vá errar bastante até, com atenção nas correções, conseguir aperfeiçoar seus habilidades.
Interesse pela cultura e valores alemães.
Alemão é um conceito multidimensional. É muito provável que, ao estudar a língua, você esbarre em seus valores, suas crenças, suas peculiaridades culturais e isso só vai engrandecer sua experiência. Estudar uma língua é estudar o legado daquela sociedade.
Dessa forma, se você estiver atento(a) e sensível a este “extra”, não só vai aprender mais rápido, de maneira mais eficiente, como vai descobrir coisas interessantes sobre aquele país, se identificar e, muitas vezes, transformar-se. Parece poético, mas é verdade! Podem testar!
Ter um foco
Isso sempre me ajudou em várias áreas em que me esforço, e com estudo de línguas não é diferente. Mesmo que você seja um diletante. É importante olhar para sua aprendizagem como um projeto de vida, definir “marcos” em que você vai avaliar seu desempenho e compará-lo com seus objetivos. Isso torna sua experiência de estudo mais tangível, e mantém a motivação alta para aprender.
Técnicas
Registre seu aprendizado, você vai precisar depois
No alemão é muito importante você desenvolver técnicas de coletar as informações. Por exemplo: não basta apenas saber um substantivo, é necessário saber seu gênero e como ele fica no plural. Tomar notas no alemão é tão importante quanto o estudo. Por essa razão eu desenvolvi uma tabela [veja aqui] que me ajuda a lembrar os pontos importantes de alguma unidade que esteja estudando. Ela não é perfeita, inclusive estou desenhando outra, mas acredito que serve como um bom exemplo do que estou falando.
Na prática o interessante é você já ir estruturando seu conhecimento a partir das anotações, e que tenham muita credibilidade, pois você provavelmente vai recorrer a elas no futuro para estudar.
Procure pessoas de seu nível para conversar
Explico melhor este ponto: nem sempre você vai encontrar pessoas fluentes que queiram praticar com você. É como um campeão de ping-pong ser convidado pra jogar com um novato. Logo, uma estratégia mais eficaz é você procurar pessoas que estejam próximas ou no seu nível, pois a velocidade do desempenho na língua será parecida. Ou então procure estrangeiros que queiram aprender sua língua, e vocês fazem uma troca de conhecimentos (também conhecida como Tamden).
Bis bald, Brasilien
Pessoal, é isso. Espero que tenham gostado da série, e que eu tenha agregado um pouquinho a mais a essa já tão explorada e divulgada experiência que é a cidade de Berlim. Agradeço mais uma vez a todos pela audiência [e paciência] e desejo muito sucesso a quem quer ou já está estudando alemão. Para mim é uma estudo recompensador e a cultura uma das mais interessantes.
Até breve! nos vemos no Brasil!